Um paciente do sexo masculino, de 37 anos, morador do município de Praia Grande (SP) foi o primeiro no Brasil e na América Latina a ser submetido à fundoplicatura endoscópica, com uso do dispositivo médico Esophyx. O procedimento, que já é usado nos Estados Unidos e Europa há mais de dez anos para tratamento da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), teve seu uso aprovado pela Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro do ano passado, e desde então um grupo de médicos especializados em cirurgias digestivas e endoscopia passam por um criterioso treinamento promovido pela EndoGastric Solutions, empresa norte americana responsável pelo desenvolvimento da nova tecnologia terapêutica. A DRGE, segundo dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), atinge cerca de 30% da população adulta do Brasil.
O primeiro procedimento do tipo foi realizado no último dia 30 de janeiro no Hospital San Gennaro, na cidade de São Paulo, com equipe comandada pelo cirurgião do aparelho digestivo Eduardo Grecco. O trabalho contou com o auxílio do gastroenterologista e cirurgião Manoel Galvão Neto e do também cirurgião Thiago Ferreira Souza. O procedimento teve ainda a orientação remota por videoconferência, diretamente dos Estados Unidos, do cirurgião Jeff Cole, responsável pela área de treinamento clínico e educação da EndoGastric Solutions. Também acompanharam o procedimento inédito no Brasil os gastroenterologistas Carolina Saad, do Paraná, e Newton Teixeira, do Rio de Janeiro. “Não tivemos nenhum tipo de intercorrência. Foi sucesso total. Acredito que este novo procedimento endoscópico, em muito pouco tempo, terá um grande espaço no tratamento da doença do refluxo no Brasil”, destaca Grecco.
De acordo com o médico, o paciente submetido à primeira fundoplicatura endoscópica da América Latina estava há três anos sofrendo com sintomas mais intensos de refluxo. A patologia, segundo explica o especialista, foi diagnosticada por exames de endoscopia, manometria e phmetria. “Quando esse paciente nos procurou, iniciamos um tratamento clínico, e não havia indicação para outros tipos de tratamentos, a não ser um procedimento cirúrgico. Ele, Inclusive, estava com uma cirurgia programada para este mês de fevereiro, mas com a chegada dessa nova técnica, que em comparação à cirurgia de fundoplicatura convencional é bem menos invasiva e traz resultados tão efetivos quanto, optamos pelo tratamento endoscópico”, explica o médico.
Recuperação
Segundo Eduardo Grecco, o paciente se recupera muito bem e em pouco mais de 24 horas já estava de volta às suas atividades profissionais. “Teoricamente é um procedimento em que o paciente pode ser liberado no mesmo dia, mas neste momento optamos, como protocolo médico, manter ao menos um dia de internação”, explica. Conforme o médico, em poucos dias o paciente percebe a diferença e o processo de recuperação é bem tranquilo, envolvendo apenas um cuidado especial com a alimentação nos primeiros dias. “São cincos dias de uma dieta líquida mais restrita, depois mais cinco dias com uma dieta líquida com sopas, e após estes dez dias o paciente passa por uma consulta para avaliação. Estando tudo bem, passa-se para uma dieta mais cremosa ou pastosa por uns cinco dias e então volta para sua dieta normal”, esclarece.
Grecco explica ainda que o paciente pode sim manter uma rotina de atividade física, desde que seja de baixo impacto nos primeiros dez dias, após o procedimento. “Depois disso, o paciente poderá fazer exercícios mais intensos, tomando apenas alguns cuidados na execução para não atrapalhar a recuperação. A volta a uma rotina 100% normal ocorre em no máximo em 30 dias”, informa o cirurgião.
A fundoplicatura com uso do EsophyX é um procedimento endoscópico minimamente invasivo. O dispositivo médico, desenvolvido em 2011 pela EndoGastric, é implantado na entrada do estômago por meio do método TIF, do inglês Transoral Incisionless Funduplication, ou Procedimento Transoral de Funduplicatura. A técnica fecha o esfíncter esovagiano inferior, aumentando seu tônus e promovendo assim a melhora de sintomas e reduzindo significativamente o episódios de refluxo gastroesofágico. Amplamente usado nos Estados Unidos e Europa, o recurso terapêutico já tratou mais de 22 mil pacientes no mundo.
Qualidade de vida
De acordo com Grecco, o novo tratamento para a doença de refluxo chega como uma alternativa para os cerca de 40% de pacientes com DRGE, que não obtêm resultados satisfatórios com o tratamento medicamentoso. “Temos muitos pacientes que não toleram o uso de algumas medicações, sem falar dos efeitos colaterais do seu uso a longo prazo”, lembra o médico.
Eduardo Grecco salienta ainda que o refluxo é um mal que tira muito da qualidade de vida do paciente. “É uma doença que impacta fortemente o sono da pessoa, que também passa a se privar de todo tipo de alimento para não ter os sintomas do refluxo e com isso a qualidade dessa alimentação também cai. O paciente também se priva até de ir a eventos sociais e isso também afeta a autoestima. Ou seja, é uma doença que interfere em todos os âmbitos da vida do paciente, seja ele familiar, social e profissional”, afirma.
Se não tratado, o refluxo pode agravar doenças já existentes como bronquites e asma, e ocasionar outras, como úlcera do esôfago e o chamado esôfago de Barrett, que pode evoluir para um câncer. Outras complicações da doença também são inflamação das cordas vocais, engasgos frequentes e noturnos e dificuldades para engolir, entre outras.
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