A sigla é inspiradora: AMAS, que significa Anomalia Magnética do Atlântico Sul. Mas este é um fenômeno que ainda é um mistério para a ciência.
A AMAS é uma espécie de defasagem na proteção magnética da Terra localizada sobre o Atlântico Sul, mais especificamente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, faixa que se estende até a África.
Mas, como este déficit de blindagem bem acima do Atlântico Sul pode afetar a vida no nosso planeta?
Uma consequência que já compreendemos é na atuação dos satélites que estão na órbita da Terra. Ao passarem pela região com baixa na retaguarda de proteção, eles podem apresentar avarias causadas pelo fluxo de radiação cósmica.
Por isso, esta anomalia é monitorada por agências espaciais, como a ESA e a NASA, e mais recentemente pelo Brasil, que lançou ao espaço o nanossatélite NanosatC-BR2 com esta missão. É o que explica o doutor em Física, pesquisador do Observatório Nacional, Marcel Nogueira.
”Por que as agências espaciais tem interesse na anomalia? Porque como essa região tem um campo mais enfraquecido, as partículas do vento solar adentram nessa região com mais facilidade, o fluxo de partículas carregadas que passam por aquela região é muito mais intenso. Isso faz com que os satélites quando passam por essa região, eles tenham que, por vezes, ficar em stand by, desligar momentaneamente alguns componentes para evitar a perda do satélite, de algum equipamento que venha a queimar. Porque a radiação, principalmente elétrons, nessa região é muito forte. Então é de interesse das agências espaciais monitorarem constantemente a evolução desta anomalia, principalmente nesta faixa central.”
Pois é, imagine um dia sem internet, celular, GPS ou meios de comunicação? Se o fenômeno afeta os satélites que são responsáveis por sistemas de comunicação e geoposicionamento, então ele pode afetar a nossa vida tão tecnológica.
“Se gente estuda as tempestades também, temos condições de melhorar o nosso sistema de distribuição de energia elétrica e protegendo, evitando esses blecautes. Porque na vida cotidiana que a gente tem hoje em dia, tão dependente da tecnologia, qualquer tipo de apagão no sistema elétrico, de qualquer país, gera prejuízo de milhões ou até bilhões de dólares. É algo muito importante para nossa vida tecnológica hoje em dia.”, diz.
No Brasil, além do nanossatélite lançado ao espaço em março em uma parceria com a agência espacial da Rússia, também há dois observatórios magnéticos que, entre outras missões, estão focados em responder questionamentos sobre esta anomalia: Vassouras, no Rio de Janeiro, e Tatuoca, no na região amazônica. Ambos fazem parte da Rede Global de Observatórios Magnéticos, o Intermagnet.
A falta de conclusões desperta curiosidade sobre a Anomalia do Atlântico Sul. Por isso é que ela acaba sendo popularmente associada a eventos como os já registrados no Triângulo das Bermudas.
Mas, Marcel prefere dizer que o fenômeno é muito mais um desafio tecnológico e que não há conclusões que apontem para os riscos do fluxo das radiações cósmicas na vida humana.
Fonte: Agência Brasil