O cronograma das obras de reconstrução do Museu Nacional prevê entregas para este ano. Em julho, terminam os trabalhos de higienização e proteção para recuperar os elementos históricos e artísticos que resistiram ao incêndio do dia 2 de setembro de 2018, do Palácio de São Cristóvão e do Jardim das Princesas, sede do museu. Entre esses bens em trabalho recuperação estão pisos, tronos, fontes, guirlandas, pinturas, murais, ornamentos de salas e jardins históricos.
Em agosto, será a vez do início das obras nas fachadas e coberturas do Palácio São Cristóvão, o bloco 1 do museu, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As obras nos jardins históricos e o desenvolvimento do projeto de museografia começam ainda no segundo semestre. Para novembro, está previsto o fim da reforma da Biblioteca Central do Museu Nacional, considerada uma das mais importantes do Brasil, com um acervo de 500 mil livros, sendo 1.500 peças raras. A biblioteca foi fundada em 1863 e na maior obra de reforma e ampliação do prédio estão sendo feitos os serviços de recuperação estrutural, impermeabilização, reforma do auditório, ampliação e modernização das salas de guarda, aulas e leituras. A obra inclui ainda a instalação de rede de dados, segurança, câmeras e um moderno sistema de prevenção e combate a incêndio.
“Nós esperamos que em 2022 toda a área acadêmica já esteja funcionando no novo campus de ensino e pesquisa do Museu Nacional”, disse a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, ao anunciar a doação de 27 peças do Império Romano e Grécia Antiga, pelo diplomata aposentado e escritor gaúcho Fernando Cacciatore de Garcia.
Arquitetura e restauro
A etapa atual de desenvolvimento do projeto de arquitetura e restauro do Palácio de São Cristóvão e do seu prédio anexo, passa pela realização de diagnósticos e estudos interdisciplinares entre estrutura, restauração e paisagismo. O trabalho de elaboração do projeto é feito por especialistas contratados e servidores da UFRJ, e vai embasar as intervenções no prédio, com base na legislação e em premissas internacionalmente referenciadas nas áreas de sustentabilidade, circulação, acessibilidade, segurança e conforto ambiental.
A reitora da UFRJ disse que por causa da pandemia houve um certo atraso nos trabalhos, mas que foi mantido o cronograma da principal meta. “Em 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil, fazermos a entrega das obras da fachada e da cobertura do bloco 1 e dos jardins. Apesar de um pequeno atraso, a gente ainda tem isso como meta e vamos conseguir atingir”, assegurou.
Para 2023, a reitora espera o término das fachadas e cobertura dos blocos 2, 3 e 4, para que a obra do interior do Palácio de São Cristóvão comece a ser executada em 2024 e posterior entrega do prédio restaurado em 2025.
O diretor do museu, Alexander Kellner, informou que o projeto executivo da restauração, ainda em fase de elaboração, é que vai trazer o que será recomposto no interior do Palácio de São Cristóvão, mas a etapa atual, do projeto de arquitetura, ainda não permite dizer se, por exemplo, será possível recuperar a pintura do teto da sala dos embaixadores.
“Se depender de mim, mesmo que tenha um pouco recuperado, eu gostaria de ter a sala do trono e a sala dos embaixadores tal qual como elas eram. Deixando claro que existem problemas de conceitos de restauração, mas certamente vamos enfrentar isso, porque acho que vai ter apelo popular e da própria casa querer ver aquelas salas e saber que aquilo ali foi reproduzido”, disse Kellner.
Parcerias
Para recuperar o Museu Nacional, foi criado o Projeto Museu Nacional Vive, que conta com diversos parceiros. O superintendente de Gestão Pública e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Júlio Costa Leite, disse que o banco há muitos anos atua na preservação do patrimônio histórico do Brasil e por isso tem uma agenda muito antiga que apoia mais de 200 monumentos do país. “A gente sabe que um povo que não conhece o seu passado, dificilmente vai compreender o seu futuro. Essa é uma agenda que já passou por diversos governos e o banco mantém de forma muito ativa”, disse.
Segundo o superintendente, o banco começou a desenvolver um projeto no Museu Nacional antes da tragédia de 2018, com a aprovação de cerca de R$ 22 milhões para o restauro e instalação de sistema de combate a incêndio, o que não chegou a ser concluído a tempo de evitar a perda do museu. Agora, segundo Júlio Costa, o banco desenvolve um segundo financiamento de mais R$ 20 milhões. Ele disse que além dos recursos, o banco se preocupa em ter uma alternativa para a sustentação do museu após a sua entrega ao público. “Vários desses projetos de apoio a museus, muitas vezes são recuperados, mas não conseguem a sua sustentabilidade financeira. Essa é uma agenda que a gente está querendo promover no banco para prover fundos e formas de fazer isso”, acrescentou.
A representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, que participa das discussões do projeto de recuperação da instituição, disse que o plano museológico está avançando e vai permitir uma acessibilidade universal. “Um museu só está realmente vivo quando ele se aproxima da sociedade que o abriga”, disse, lembrando que ainda tem muito o que fazer até a entrega do Museu Nacional prevista para 2025.
O vice-presidente executivo de Relações Institucionais e Comunicação da Vale e presidente do Painel de Especialistas do Instituto Cultural Vale, Luiz Eduardo Osório, destacou a relevância do museu para a história do Brasil e para a formação científica dos pesquisadores. “A união de parcerias é da maior importância para que a gente possa reconstruir este museu. Nesse processo, a gente tem um grande aprendizado e estamos avançando desde o início de 2020 na construção dessa rede”, disse.
Doação
Hoje, o Museu Nacional anunciou que recebeu a doação de 27 peças datadas dos períodos clássicos grego e romano pelo diplomata aposentado e escritor gaúcho Fernando Cacciatore de Garcia. Entre elas, há peças em mármore, cerâmica, vidro, bronze, prata e terracota, todas de importante valor histórico e científico. A peça mais antiga, de 550 a.C., é um tijolo arquitetônico que ornamentava um templo na Grécia Oriental, território que, atualmente, pertence à Turquia.