O Itaú Cultural abre no dia 8 de julho (quinta-feira), Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, uma nova série do projeto Cena Agora, que acontece até o dia 18, no período de quinta-feira a domingo. Depois de abordar o Nordeste, a atividade, desta vez, é voltada à relação da ciência com as artes – seja como tema ou como processo de criação. Tendo como provocação a temática Corpxs reagentes, existências em crise, o Cena Agora – Arte & Ciência reúne duas mesas e 12 cenas de no máximo 15 minutos, nas quais artistas convidados colocam em pauta e no palco diferentes olhares sobre o diálogo entre esses dois segmentos, em uma relação direta também com a atualidade.
Realizadas dentro do Palco Virtual do Itaú Cultural, as atividades são on-line e gratuitas, acontecendo sempre de quinta-feira a sábado, às 20h, e no domingo, às 19h, pela plataforma Zoom. Todas as apresentações são seguidas por conversas com os elencos e mediadores, que nesta edição do Cena Agora acompanharam o processo criativo dos artistas para a criação de cenas inéditas. Os ingressos devem ser reservados via Sympla – mais informações em www.itaucultural.org.br.
As quintas-feiras são reservadas para reflexões sobre o tema. Na primeira semana, iniciada no dia 8, traz a mesa Como pensar arte e ciência em um mundo complexo? Reunindo a artista visual Rejane Cantoni, doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela Universidade Católica de São Paulo, e a biomédica Helena Nader, que entre outros reconhecimentos e títulos é atualmente vice-presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), o encontro busca provocar um pensamento sobre uma atuação coletiva entre a arte e a ciência. A mediação é de Jader Rosa, gerente do Núcleo do Observatório Itaú Cultural.
As exibições das cenas criadas especialmente para a programação acontecem de sexta-feira a domingo, com duas criações por noite. No dia 9, que conta com mediação da artista-pesquisadora Walmeri Ribeiro, as convidadas são do universo da dança e levam para o palco o seu olhar para as ciências naturais. A pernambucana Flávia Pinheiro conduz In Vitro, performance que, em analogia às formações da natureza, aborda o conhecimento que os elementos trazem em si e como são produzidas as verdades criadas para narrar as histórias ensinadas. A paulista Júlia Abs faz em Dez uma celebração à vida no planeta Terra, em uma espécie de partitura coreográfica, como uma mandala a ser ativada.
Conceito e técnica
No sábado, 10, o conteúdo desta programação é científico, com a participação de dois grupos que nasceram com a proposta de relacionar esses dois segmentos. O Núcleo Arte e Ciência no Palco, de São Paulo, apresenta A Extinção é a Regra. A Sobrevivência é a Exceção, fazendo, a partir desse conceito, um exercício de reconstruir os fragmentos surgidos da fecunda curiosidade humana, combinando atores com criações visuais, histórias de descobertas com provocações anti-negacionistas, passado e presente, humor e poesia.
O grupo carioca Ciênica mostra ao público Sua Companhia. Na cena, quatro amigos, em um encontro virtual após mais de um ano de distanciamento entre as pessoas, resgatam seus vínculos, memórias e afetos, em meio a enxurradas de informações, emoções, ciência, tecnologia e incertezas. Lembranças do convívio os enchem de esperanças, mas o receio do que está por vir imobiliza a ação. A conversa com os elencos após as exibições tem mediação da atriz, produtora, dramaturga e diretora Thais Medeiros.
A primeira semana de Cena Agora – Arte & Ciência fecha no domingo, 11, com a ciência presente no teatro de bonecos. Após as cenas, o diretor audiovisual Ricardo Laganaro conduz o bate-papo com os convidados. Os mineiros do grupo Pigmalião Escultura que Mexe apresentam Fábulas Antropofágicas para Dias Fascistas: A Raposa no Divã, inspirada em peça teatral da filósofa Márcia Tiburi, uma fábula para refletir sobre os dias atuais. Nela, a raposa não gosta de direitos humanos, a lebre bate panela e o corvo é o moralista da história.
Os gaúchos do De Pernas Pro Ar, por sua vez, apresentam Memórias Enferrujadas. Nesse teatro de máquinas, um velho inventor esquecido, desgastado pelo tempo, agora vive das ilusões e lembranças provocadas por suas próprias criações. Ao despertar, só lhe resta a rotina de desenferrujar movimentos, sentimentos e engrenagens, um bálsamo para reanimar a vida.
Segunda semana
O Itaú Cultural retoma a programação do Cena Agora – Arte & Ciência no dia 15 de julho, dedicando mais uma vez a quinta-feira à reflexão, com um debate sobre a temática. Com mediação do ator, diretor e mestre em Ciências Leonardo Moreira, a mesa Experiências artísticas, obras científicas – um debate sobre a fricção entre arte e ciência abre a atividade com a participação de três convidados. Uma delas é a química baiana Kananda Eller, conhecida como Deusa Cientista nas redes sociais, onde faz divulgação científica buscando romper com a universalização de uma ciência branca. Para tanto, traz referências negras dentro de uma afroperspectiva.
A mesa conta, ainda, com a carioca Letícia Guimarães, que atua no Museu da Vida – Fiocruz, criando e dirigindo espetáculos teatrais com o objetivo de promover a saúde e popularizar a ciência com um viés político-social. O último convidado é o cearense Marcus Vale, fundador da Seara da Ciência, museu dedicado ao tema na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde coordena o grupo de teatro e outras atividades de divulgação científica.
Para iniciar a exibição das cenas, na sexta-feira, 16, o Cena Agora provoca a reflexão sobre as ciências naturais e humanas como áreas próximas. Nesse sentido, o diretor, dramaturgo e ator Fabiano Dadado de Freitas e o dramaturgo Ronaldo Serruya apresentam O Futuro não é Depois: Uma Performance Palestrativa sobre Cazuza e Herbert Daniel. Depois de promoverem um encontro de suas pesquisas sobre os corpos dissidentes a partir da epidemia de HIV-AIDS, agora, no centro de outra pandemia, eles acessam uma ancestralidade positiva por meio do pensamento-ação de Cazuza e Herbert Daniel, em um chamamento do passado que sinaliza futuro, em uma ideia espiralar sobre o tempo.
A noite traz, ainda, Das Águas que Atravesso: Um Diário de Vida que Ancoro, cena da médica Renata Meiga e do ator Jhoao Junnior. Obra criada a partir dos apontamentos de doulagem de Renata Meiga, esse diário fílmico retrata a experiência da profissional junto aos seus pacientes. Nele, a morte é um caminho encarado pela perspectiva do cuidado e da vida que há enquanto a morte não chega. Nessa travessia, a vida é ancorada por uma doula. Após a apresentação, o bate-papo com o elenco é mediado por Dodi Leal, líder do Grupo de Pesquisa Pedagogia da Performance: visualidades da cena e tecnologias críticas do corpo, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
No sábado, 17, a programação conta com dois convidados que trabalham a ciência em seus processos de criação. Em Figura Humana, o grupo chileno-brasileiro Tercer Abstracto parte da pesquisa e criação feita a partir do manifesto Homem e Figura Artística (1925), de Oskar Schlemmer, que apresenta os princípios metodológicos da prática cênica da oficina de Teatro da Bauhaus. O projeto retoma as observações sobre a composição cênica desenvolvidas pelo professor deste movimento e elabora, com base no contexto político atual, uma releitura do corpo humano como mobilizador da arquitetura social.
A outra cena da noite é Corpos Aleatórios ou Sobre a Aparente Aleatoriedade da Vida, do AntiKatártiKa Teatral (AKK), com o ator, diretor e autor teatral Nelson Baskerville, Cau Vianna, Nelson Baskeville e Raimo Benedetti. Nela, partem de estudos de mecanismos e estruturas matemáticas a fim de criar uma ferramenta que permita e explicite o caráter de aleatoriedade da construção narrativa. Assim, usam a auto ficção como expediente na orientação dos atores – Dani D’eon, Larissa Nunes, Michelle Bráz, Ronaldo Fernandes e o próprio Baskerville –, onde cada um narra em um minuto, cada fase de sua própria experiência. Um site será criado especialmente para o evento, que sorteará e fará a criação de um novo corpo combinando as histórias de cada um.
Cena Agora – Arte & Ciência encerra no domingo, 18, com mais duas conexões da arte com as ciências naturais, seguidas de um bate-papo conduzido pelo artista visual indígena paraense Emerson Uýra. Em Não se Pode Tocar, Está em Mim, Está em Nós, o coletivo carioca Territórios Sensíveis aborda a questão estético-política dos danos, impactos e sensações geradas pelas ruínas derivadas do extrativismo mineral – uma sobrevivência por entre as veias e rastros abertos do antropoceno. O projeto se lança ao campo da memória corporificada, na construção poética de dizeres, para ir além.
Por fim, em Espaços Perecíveis de Liberdade, a artista capixaba Castiel Vitorino Brasileiro reflete sobre a relação do seu corpo com os minerais. Na cena, as luminosidades e as escuridões, em Boituva, são presságios. A partir de então, foram criados templos efêmeros, para se cultuar o acaso.