Na última quarta-feira (16), o Banco Central anunciou um aumento da taxa Selic para 4,25% ao ano. A mídia tradicional de economia fez a cobertura, contudo o assunto foi aprofundado nas redes sociais, em canais especializados como o “Dinheiro Com Você”, do educador financeiro William Ribeiro. No mesmo dia do anúncio, fez uma entrada ao vivo acompanhado de Raphael Figueiredo da Eleven Financial, uma das maiores casas de análises independentes do Brasil, que também tem utilizado as redes sociais para se comunicar com seu público.
Canais sobre o mercado financeiro como o de Ribeiro, um dos maiores do país, ganham cada vez mais credibilidade e assumem o papel de multiplicadores da informação. Isso, foi o que mostrou uma pesquisa que acaba de ser lançada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). A conversa com Figueiredo da Eleven mostra claramente esse fenômeno.
Banco Central do Mundo
Afinal, por que o Banco Central subiu a taxa Selic e o que isso representa para o bolso do brasileiro? Quem começa explicando é Figueiredo. “Quando falamos do Fed, do Banco Central dos Estados Unidos, ele não é apenas o Banco Central americano. O Fed deve ser considerado como o Banco Central do Mundo. Afinal, o dólar é a moeda mais negociada e utilizada como reserva de valor no mundo inteiro”.
Dito isso, é de se esperar que mudanças de política monetária do Fed (Federal Reserve) tenhan um impacto na percepção do dinheiro em todo o planeta, sejam pelos governos, empresas e até famílias. Mesmo que essa decisão seja apenas manter a taxa de juros na faixa atual, perto de zero.
“É um impacto que não tem exceções, pois influencia desde a compra de um produto no Brasil que dependa de transações comerciais até a decisão de uma viagem para a Disney”, destaca o sócio da Eleven.
O lado positivo do aumento da Selic
Figueiredo fez questão de destacar como o aumento da Selic é um sinal positivo. “Estamos vindo de um cenário de crise por causa da covid. As fronteiras se fecharam, os países se isolaram e reduziram as negociações entre si. Contudo, com a vacinação em massa nas economias desenvolvidas, provocou-se uma reabertura das economias e uma nova rodada de estímulo. A economia mundial voltou a crescer a passos largos”.
Ele ainda diz que esse acontecimento, que vem em decorrência da decisão de política monetária do Banco Central dos estados Unidos, é plena por trazer uma previsão de estabilidade por pelo menos mais dois anos.
“Essa decisão mantem a taxa de juros onde está, e segundo os dirigentes do Banco Central americano, é muito provável que tenhamos duas elevações de juros até 2023. Isso muda uma ordem de fluxo global, para fazer uma pressão inflacionária que os analistas estão prevendo mais para frente. Isso traz um impacto na renda das pessoas do mundo inteiro, não só do Brasil”.
Dinâmica de investimentos
Com o aumento da taxa Selic, dúvidas surgem quanto aos retornos possívies para a Renda Fixa e Bolsa de Valores. Para Raphael Figueiredo, em momentos como esse, o melhor a se fazer é tomar precaução em decisões financeiras, deixando de lado qualquer radicalismo.
“A questão mais importante agora, é você não trabalhar com posições binárias. Acaba sendo natural que as pessoas queiram cortar caminho, ainda mais que já há a previsão de uma alta de 0,75% na Selic na próxima reunião. Algumas pessoas acabam querendo sair da Bolsa e entrar em renda fixa. Entretanto, mesmo que a taxa de juros suba, ela ainda é considerada baixa, comparado aos mercados emergentes.”
William aponta que apesar do otimismo, o Brasil ainda está longe de países mais desenvolvidos e com uma economia mais estável.
“A dinâmica de baixa remuneração dos juros no Brasil acaba afastando investidores por conta de riscos econômicos, políticos e jurídicos. O investidor internacional prefere aplicar o seu dinheiro onde a relação risco/retorno é mais salutar. Isso acaba implicando inclusive no câmbio. Passamos um aperto com o dólar, e só agora as coisas amenizaram.”
Mercado de commodities
No bate papo, Ribeiro questiona Figueiredo quanto às commodities, se elas realmente passam por um “boom” no mercado, se já foi muito esticado, ou até mesmo se há espaço para crescimento sustentável. Esse mercado impacta diretamente a economia brasileira, pressionando a inflação e a taxa Selic.
O entrevistado acredita que essa explosão exista por duas razões. “A primeira surge com o Trump, quando ele fecha a economia americana para o mundo, tentando recuperar o lado financeiro dos Estados Unidos. A transação internacional ficou muito mais limitada por isso, mas com Biden assumindo o país, o cenário mudou. A globalização do mercado, as relações internacionais, e os blocos econômicos voltaram, fazendo com que os mercados de commodities acelerassem muito.”
“O segundo ponto, que tem uma força ainda maior é a China. Eles foram o primeiro país a entrar em crise por conta da pandemia, e o primeiro a sair, servindo de locomotiva para puxar o ritmo de atividade econômica global. Hoje eles são um dos maiores, se não o maior mercado consumidor de commodities do mundo, através de minério de ferro e cobre, por exemplo.
A conclusão é de que a alta das commodities parece ser sustentável no médio e no longo prazo, apesar do processo inflacionário pontual. Para o Brasil, isso é algo positivo, afinal, somos um verdadeiro exportador de commodities, mas nesse ponto, William faz uma ressalva. “Quem não se lembra da matéria da The Economist, sobre a decolagem do Brasil. Nós nadávamos a braçadas nesse mercado, mas não fizemos o dever de casa, e esse erro não pode ser repetido.”