A pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgada na semana passada apontou que quase 70% (67,5%) das famílias brasileiras estão endividadas. As dívidas estão distribuídas entre cartão de crédito, cheque especial, crédito consignado e carnê, mas na maior parte é o cartão de crédito que é o verdadeiro vilão. Para se ter uma ideia de quanto o uso indiscriminado do cartão pode ser perigoso, o custo do crédito no rotativo nos últimos 12 meses foi de 207,6% e, no parcelado, 115,6%. Ou seja: quem deve R$ 1 mil, em um ano passará a dever R$ 2.760.
“O juro do cartão de crédito é exorbitante, o que corrói ainda mais o poder de compra. E 70% é um índice muito alto e preocupante, pois, quando pegamos a série histórica desse endividamento, constatamos que ele só vem subindo”, ressalta a professora e coordenadora dos cursos de Economia e de Negócios Internacionais da FAE Centro Universitário, Solídia Santos.
Para complicar ainda mais a vida de quem já está endividado, mais aumentos foram anunciados esta semana: a Petrobras aumentou os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha nas refinarias. A gasolina sofrerá reajuste de 6,3%, passando de R$ 2,53 o litro para R$ 2,69; o diesel terá acréscimo de 3,7%, de R$ 2,71 o litro para R$ 2,81, e o gás de cozinha sofrerá reajuste de 5,9%, passando de R$ 3,40 para R$ 3,60 o quilo. O aumento eleva o preço do botijão de 13 quilos de R$ 44,20 para R$ 46,80. Desde o início do ano, a gasolina acumula aumento de 46%, enquanto o diesel soma alta de 39% e o gás de cozinha, 38%. “Difícil calcular o impacto direto no bolso das pessoas, pois no combustível, por exemplo, incidem riscos, impostos, margens de lucro. Mas o que é certo é que o impacto será grande, principalmente nas famílias maiores”, comenta.
Alguns dias atrás, o brasileiro também foi surpreendido pelo aumento de 52% na bandeira vermelha da energia elétrica, o que poderá elevar a conta de luz em 5,5%, mais ou menos, para uma família com consumo médio.
Como explica a professora Solídia, outros indicadores aliados à pesquisa da CNC mostram a gravidade do problema do endividamento do brasileiro: analisando a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), por exemplo, conclui-se que a renda média do brasileiro caiu pelo menos 10% de setembro do ano passado para cá. Soma-se a isso, ainda, o fato de que praticamente 15% da população está desempregada. “Por mais que a pessoa volte para o mercado de trabalho, ela voltará com renda menor do que antes, o que ainda mantém o endividamento ou contribui para o aumento desse endividamento”, analisa.
Enquanto a inflação aumentou 8% nos últimos 12 meses, a renda não sofreu reajuste. E o auxílio emergencial também não surtiu grandes efeitos, uma vez que diminuíram o número de pessoas contempladas por ele e o valor pago pelo governo. “É um conjunto de fatores que levam ao grande índice de endividamento, que tende a aumentar, pois quem está endividado acaba recorrendo a empréstimos e a consumir apenas o essencial, o que também prejudica a economia”, observa a professora.
Para tentar sair do vermelho, a professora recomenda a negociação com a instituição financeira. E, claro, não contrair novas dívidas com compras supérfluas. “Olhar para o orçamento familiar também é muito importante. Manter as finanças em dia, equilibradas, e pensar no consumo consciente, gastar somente com o que precisa e com o que pode, é fundamental”, orienta.