A mulher quando engravida ou pensa em se tornar mãe, além dos medos naturais que envolvem a saúde do bebê, existe ainda o receio do tipo de parto que será submetida, se será bem acompanhada por um profissional, se terá todas as dúvidas respondidas durante a jornada e o principal: se terá seu direito de escolha respeitado no momento mais mágico e importante de sua vida: o parto – o começo de tudo. Esse tripé, físico e emocional, acompanha a mulher durante a gestação.
Quando olhamos os dados, a lógica de como os partos são conduzidos aqui no Brasil vai justamente na contramão do que as gestantes desejam, o que é uma incongruência. Existem mulheres que querem parto normal, porém sua condição clínica não possibilita desta maneira e cabe ao médico explicar as razões, do contrário, pode colocar em risco a vida da mãe e do bebê. “Cesariana salva vida, e é importante que se diga isso sempre. O que não é aceitável, e é nisso que embasamos nosso protesto, é o uso indiscriminado de como é utilizada no Brasil.”, afirma a diretora médica da Theia, Laura Penteado, que coordena a equipe de obstetras.
Com o objetivo de ressignificar o parto e transformar mentalidades, um grupo de obstetras em São Paulo uniu-se à healthtech startup Theia para desafiar o modelo tradicional de saúde da mulher vigente no Brasil, em que a maioria das grávidas não têm poder de decisão e protagonismo da sua própria história. Porém, essa transformação só acontecerá de verdade na sociedade se houver a adesão das pessoas, e à medida em que as mulheres têm acesso à informação, dados, pesquisa e uma equipe de médicos especializados e comprometidos com a causa. “Queremos que as gestantes sintam-se seus medos acolhidos, escutados, legitimados e transformados em apoio, respeito e autoconfiança. É olhar nos olhos delas e dizer a cada uma: #vocênãotásozinha”, reforça a médica.
Cenário
É assustador. O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de cesáreas, com uma taxa de acima de 55% do total de partos. Na América Latina, região com maior taxa de intervenções (44,3%) do mundo, o país perde somente para a República Dominicana (58,1%). Por outro lado, pesquisa da Fiocruz, em parceria com diversas instituições científicas do país, mostram que 70% das brasileiras desejam um parto normal no início da gravidez.
No sistema privado de saúde este número assusta ainda mais: 86% das mulheres são submetidas a cesáreas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 15% seria um índice adequado para a realização do procedimento. “Os números são sintomas de um sistema que não foi desenvolvido centrado na mulher, na mãe. No momento em que essas mulheres mais precisam de apoio, informação e cuidado, acabam sendo engolidas por um sistema guiado pela produtividade (maior número de atendimentos num menor tempo possível)”.
Juntas, essas profissionais desejam levar esse tipo de assistência ao maior número de mulheres possível. “Uma assistência integrada e humanizada desde o começo da gestação muda destinos, histórias e o sentido da vida. Meu sonho é que a obstetrícia possa ter esse olhar para todas as mulheres”, finaliza a obstetra Larissa Cassiano.
O olhar de diversos profissionais para a mesma mulher, que a coloquem verdadeiramente no centro da experiência da gestação, tem atraído gestantes. “Acredito muito na potência do atendimento multidisciplinar da humanização da mulher para que ela tenha uma jornada tranquila e com mais segurança”, afirma a obstetra Débora Oriá.