Após o parto, inicia-se uma fase de grandes mudanças físicas e hormonais para a mulher. Esse período de transições e transformações é tecnicamente chamado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de puerpério. Além da alegria que a maternidade pode proporcionar, o puerpério traz à tona sentimentos de insegurança, incertezas, ansiedade, medo e solidão.
Para além da recuperação fisiológica, esse é um momento de adaptações emocionais marcado por um misto de sentimentos, como explica a médica ginecologista e obstetra, Teila Bendocchi.
“Eu digo que é o pior inferno astral da vida da mulher, que é e quando ela se dá conta que virou mãe e que a vida dela mudou em tudo, de ponta cabeça – desde o lado emocional ao físico. Realmente abala. É um terremoto na vida da gente, e nem sempre ela está preparada para toda aquela mudança”.
O puerpério tem início imediato após o parto e cada mulher irá vivenciá-lo de uma maneira singular e única. Por isso, muitos especialistas relutam em estabelecer um prazo fixo que defina seu fim. Independente do tempo de duração, a fase é marcada por muitas redefinições e cobranças.
A especialista ressalta que a instabilidade emocional, associada à privação de sono, cansaço, ausência de apoio dos seus familiares e queda abrupta dos hormônios produzidos durante a gestação são fatores de risco para o desenvolvimento da depressão pós-parto.
“Então a gente vê que algumas pacientes fazem só um blueszinho, fica mais tristinha, que a gente consegue às vezes (contornar)… eu digo, ‘olhe, pegue sua mulher, leve para tomar uma água de coco no fim da tarde. Ela precisa sair, ela precisa ver gente, ela precisa sair de casa’. Isso resolve. Tem outras que não, que realmente deprimem mesmo e que precisam de ajuda com medicação, de precisar de consulta psiquiátrica. E quem vai me ajudar a nortear isso é quem está convivendo com ela no dia a dia”.
A funcionária pública Daniela Freitas sabe bem o que é isso. Gestante em momentos distintos de sua vida, percebeu em sua segunda gestação, 20 anos depois da primeira, a importância da rede de apoio no seu puerpério.
“Totalmente diferente. Eu costumo dizer que eu sou mãe de primeira viagem pela segunda vez. Eu acho que a principal diferença foi a minha rede de apoio. Com a minha primeira filha, eu tinha uma rede de apoio muito grande, formada principalmente pelas mulheres da minha família, e também da família do pai da minha filha. Estávamos todos muito juntos. E agora, no puerpério da Helena, eu achei que a diferença foi essa, de ter uma rede de apoio muito menor. Então, para mim, foi muito mais difícil do que na primeira gravidez, embora fosse muito mais nova na primeira maternidade”.
A mãe de Taís, de 23 anos, e da pequena Helena, de quatro, fala de como amigos e familiares podem ajudar nesse período.
“Eu acho que a gente devia ter um curso, inclusive, preparatório para o núcleo familiar. Isso foi muito diferente também na maternidade da Taís, da minha primeira filha. Eu morava ainda com meus pais quando ela nasceu e eu tive muita ajuda. E o que eu senti diferença com a Helena é que as pessoas achavam que iam me ajudar segurando ela no braço. Tirar minha filha do meu braço no puerpério me dava uma angústia que ninguém conseguia entender – e eram questões hormonais, não era que eu não queria que ela ficasse com outra pessoa. E as pessoas não sabiam como ajudar. E elas não entendiam que, se, por exemplo, lavassem os meus pratos, se trouxesse uma comida pronta para mim, se trouxesse um lanchinho para mim, ficaria tudo mais fácil. Na verdade, a gente vai na casa de uma mulher que acabou de parir e a gente espera que ela nos ofereça algo para comer”.
A médica Teila Bendocchi também ressalta a importância do apoio do pai neste momento de adaptação, para que a companheira possa passar por este processo com mais leveza.
“O filho não é só dela. Ele amamenta com ela, (o que) já é uma carga muito grande. É uma das coisas que eu já oriento no pré-natal. Eu digo: ‘sua mulher vai dar o peito, mas os dois precisam acordar de noite. Isso precisa ser revezado: ela dá o peito, você bota um pouco para arrotar’. Você tem que diminuir isso. A mulher precisa sentir que é apoiada, que aquilo é compartilhado a dois. Foi um projeto de filhos a dois, não foi sozinho”.