A ausência de cobras na Irlanda é uma questão que intriga há tempos, e até lendas envolvendo santos são evocadas para explicar esse fenômeno.
Segundo a tradição, no século V, São Patrício teria exterminado as cobras da Ilha Esmeralda, lançando-as ao mar.
Apesar dessa narrativa popular, a realidade é que a Irlanda nunca foi habitada por cobras. Isso levanta a questão: em um mundo onde cobras são encontradas em praticamente todos os lugares, o que torna a Irlanda tão singular?
Um fator importante é a geografia da ilha. Rodeada pelo Mar da Irlanda, com mais de 50 km de largura em alguns pontos, a travessia seria longa demais para uma serpente terrestre.
Mesmo uma serpente marinha encontraria dificuldades, já que essas espécies habitam águas tropicais, não o gélido Atlântico.
De acordo com o Popular Science, durante a Era do Gelo, as condições tornaram as ilhas impróprias para répteis, que dependem do calor ambiental para sobreviver.
Há cerca de 10.000 anos, o recuo dos glaciares expôs uma ponte terrestre entre a Europa e a Grã-Bretanha, e outra entre a Grã-Bretanha e a Irlanda, facilitando a passagem para essas ilhas.
A posterior inundação das pontes terrestres, cerca de 8.500 anos atrás para a Irlanda e 2.000 anos depois para a Grã-Bretanha, permitiu que os animais europeus colonizassem essas terras.
No entanto, apenas três espécies de serpentes conseguiram estabelecer-se na Grã-Bretanha, e nenhuma delas se aventurou em direção à Irlanda, como evidenciado pelo registro fóssil.
Outras ilhas desprovidas de cobras incluem Nova Zelândia, Havaí, Groenlândia, Islândia e Antártida. Ainda que a ausência de cobras pareça surpreendente, dada a globalização do comércio de animais de estimação, na Irlanda, ao contrário de outros lugares, cobras de estimação não são proibidas.
Durante o boom econômico da década de 1990, as cobras de estimação tornaram-se um símbolo de status, mas durante a recessão de 2008 muitas pessoas soltaram suas cobras.
Embora tenham sido avistadas em vários locais, até o momento elas não parecem ter se espalhado significativamente na natureza. No entanto, caso isso ocorra, enfrentar as cobras exigirá mais do que uma intervenção divina de São Patrício.