De acordo com dados oficiais do DHS (Departamento de Segurança Interna dos EUA), houve em 2019 um aumento de 682% de brasileiros em situação ilegal nos Estados Unidos, quando comparado aos números do ano anterior.
O anuário de estatísticas de imigração dos EUA, disponibilizado online pelo DHS, reúne informações sobre emissão de green cards, asilo, refúgio, apreensões e deportações em solo americano, e revela que em 2018 haviam sido apreendidos 2.810 brasileiros no país. Já em 2019 este número subiu para a impressionante marca de19.168 pessoas. Um recorde de prisões e, em muitos casos, deportações, de imigrantes originários do Brasil.
Embora a principal explicação para este crescimento esteja na implementação da política de “tolerância zero” do governo Trump, que de 2016 a 2020, deportou aproximadamente 800 mil ilegais dos EUA, também existe um fator que, historicamente, tem dificultado a vida dos imigrantes que buscam um futuro melhor na América: a desinformação.
“Existem casos de brasileiros que poderiam até mesmo solicitar um green card, mas por falta de informação acabaram entrando ou permanecendo nos EUA ilegalmente. Infelizmente, muitas pessoas com este perfil foram presas e deportadas nos últimos anos” – declarou o Dr. Felipe Alexandre, advogado de imigração da AG Immigration, escritório americano que representa centenas de clientes brasileiros em seus processos de vistos e green cards.
A deportação de brasileiros ganhou bastante atenção na mídia em 2020, quando 8 voos trazendo deportados chegaram ao Brasil, totalizando cerca de 520 imigrantes ilegais “devolvidos” pelas autoridades americanas. Em comum a muitos destes brasileiros, o fato de, surpreendentemente, possuírem um perfil profissional e acadêmico acima da média.
Na lista dos deportados constavam centenas de médicos, dentistas, enfermeiros, profissionais de TI, engenheiros, advogados e uma série de outras profissionais que possuem conhecimento técnico e experiência. Uma mudança muito grande se comparada ao perfil dos brasileiros nos EUA em décadas anteriores, quando a grande maioria dos imigrantes ilegais do Brasil era de pessoas com baixa escolaridade que exerciam empregos de baixa remuneração e, em muitos casos, subempregos.
“Houve uma mudança significativa no perfil do brasileiro que hoje busca a imigração nos EUA. Fatores como a melhoria mundial da economia, globalização e a popularização de cursos universitários ou de extensão no exterior ajudaram a tornar os profissionais brasileiros muito mais preparados para atuarem no mercado de trabalho internacional” – apontou Rodrigo Costa, Especialista em investimentos e mercado de trabalho americano.
Mas se realmente o brasileiro hoje está “mais preparado” e em condições de buscar um green card para trabalhar ou empreender nos Estados Unidos, por que então tantos ainda insistem em entrar e permanecer no país ilegalmente?
“Muitos brasileiros que foram deportados ou que até hoje estão “escondidos” nos EUA, poderiam ter se beneficiado destes programas. Porém, infelizmente, somente nos últimos 3 ou 4 anos os brasileiros têm tomado conhecimento sobre os vistos corretos que levam a imigração legal na América. Por incrível que pareça, até mesmo muitos advogados de imigração só passaram a conhecer estas opções de vistos recentemente.” – ressaltou o Dr. Felipe Alexandre.
De fato, o governo americano disponibiliza vários programas de vistos e green cards para profissionais estrangeiros que desejam trabalhar de forma legal nos EUA. Em muitos casos, a presença destes estrangeiros é fundamental para o desenvolvimento da própria economia americana, que em muitos casos não encontra uma quantidade de profissionais suficiente para atender as demandas no mercado.
Sobre as possibilidades de brasileiros qualificados conseguirem green cards e se tornarem residentes permanentes nos EUA, Rodrigo Costa frisou: “Nunca na história precisou-se tanto da força de trabalho e conhecimento dos imigrantes como nos dias atuais. Ao contrário do que muitos imaginam, os imigrantes continuam sendo muito bem-vindos na América, desde que, claro, cheguem no país através de vias imigratórias legais”.
Mas e quanto aos milhares de brasileiros que ainda estão ilegais ou presos nos EUA aguardando julgamento de seus processos de deportação? O que eles podem esperar do novo governo americano? Será que o projeto de “anistia” para 11 milhões de ilegais que Joe Biden tantas vezes prometeu durante sua campanha presidencial vai realmente sair?
“O novo governo americano já iniciou políticas mais brandas para os imigrantes ilegais, como a paralização de deportações por 100 dias, reunificação de famílias separadas nas fronteiras com o México, reinstalação de programas de asilo e ajuda humanitária, etc. Já a proposta de anistia para milhões de pessoas indocumentadas trata-se de um tema bastante complexo e que divide tanto os deputados e senadores democratas e republicanos quanto a própria sociedade americana. Temos ainda que aguardar a proposta oficial de Biden neste sentido para fazermos uma previsão mais assertiva” – pontuou novamente o Dr. Felipe Alexandre.
“Existem diversas oportunidades para morar, trabalhar e estudar nos Estados Unidos. Mas é importante que o brasileiro que deseja começar uma nova vida na América busque a imigração de forma legal. E embora existam muitas pessoas que se prejudicaram tentando chegar ilegalmente nos EUA, a boa notícia é que só na última década (2011 a 2020) houve um recorde de green cards concedidos para brasileiros, com mais de 132 mil documentos de residência emitidos pelas autoridades americanas. Certamente uma prova de que vale muito a pena agir de forma correta” – finalizou o Dr. Felipe Alexandre.