De um lado, uma das maiores redes sociais do mundo, parte de um império que inclui Instagram e WhatsApp. Do outro, uma das fabricantes de eletrônicos mais valiosas do planeta e a quarta maior empresa do setor de celulares.
Nos últimos meses, Facebook e Apple trocaram acusações entre si, indicando o início de uma batalha duradoura. Em jogo, princípios e termos de uso de plataformas, além da quantidade de dados coletados dos usuários.
Antes que essa disputa esquente, separamos a seguir os motivos que levaram os dois lados a se estranharem — e até que ponto essa guerra pode chegar.
As primeiras brigas
Um dos primeiros atritos recentes entre Facebook e Apple começou na metade de 2020. O aplicativo do Facebook Gaming, da empresa de Mark Zuckerberg, foi rejeitado consecutivas vezes na App Store do iPhone.
O motivo? A plataforma agia como “meio de distribuição de aplicativos” — algo não permitido de acordo com as políticas do iOS. A Apple é a única autorizada a ter uma loja no sistema operacional e a oferecer coletâneas de jogos nesse formato, a partir do Apple Arcade.
A taxa da discórdia
Outra discordância ocorreu em agosto de 2020. O app do Facebook teve uma atualização rejeitada na App Store por avisar de forma explícita que a Apple cobra 30% sobre itens vendidos na rede. Essa é uma regra da loja: transações dentro do ambiente digital têm uma fatia repassada para a dona.
O Facebook tentou negociar, mas recebeu uma negativa e deixou a “indireta”. Isso é comum tanto no iOS quanto no Android, mas desenvolvedoras como a Epic Games começaram a contestar a política.
As políticas da App Store
Porém, nenhuma polêmica foi tão grave quanto o anúncio de um futuro recurso do iOS 14. A novidade dará ao usuário o poder de decidir o nível de permissão de rastreamento e coleta de dados que cada aplicativo terá. A função ainda não estreou, mas já causou burburinho em outras redes sociais e pode ser adotada também pela Google no sistema operacional Android.
É fácil perceber o porquê de o Facebook não ter gostado da novidade. A rede social depende desses dados como fonte de personalização de conteúdo, receita e direcionamento de anúncios.
Por um lado, a Apple diz defender a privacidade dos usuários, que “devem saber quando os dados estão sendo coletados e compartilhados ao redor de outros aplicativos e sites — e devem ter a escolha de permitir isso ou não”. Ela ainda citou diretamente o Facebook como exemplo de aplicativo que “coleta o máximo de dados possível”.
O CEO da Apple, Tim Cook, reforça que “transparência e reforma” são necessários para garantir a privacidade do público.
Do outro, o Facebook afirma que a Maçã faz a própria coleta de informações e usa a posição de domínio como dona dos aparelhos, sistemas operacionais e lojas digitais para sufocar opositores. Além disso, Zuckerberg afirma que a coleta de dados para fins comerciais é importante para ajudar pequenos comércios locais, que só conseguem alcançar o consumidor na plataforma por causa de mecanismos como a geolocalização. Reduzir a prática, portanto, pode indiretamente prejudicar esses estabelecimentos.
Com tanto em jogo, a empresa pensa até em processar a Apple por “práticas anticompetitivas de mercado”. E, mesmo não duelando diretamente em nenhum setor, agora Zuckerberg considera a Apple “uma grande rival”.
O que vai acontecer?
No fim, das contas, ambas as companhias estão certas nas acusações de que a coleta de dados é exagerada e de que um controle é necessário. Porém, não há santo na história: as duas gigantes merecem as críticas pelas práticas contra a privacidade da comunidade e a concorrência.
Antes de ser implementado, o recurso de controle de rastreamento do iOS pode ser revisto, talvez até sem prejudicar pequenas empresas. No cenário mais crítico, é possível que a briga entre Apple e Facebook chegue aos tribunais e até vire tema nas audiências de fiscalização do Congresso dos Estados Unidos ainda em 2021. Por enquanto, o usuário segue sem alterações na coleta de dados no aplicativo e nos iPhones.
Fonte: Tecmundo